terça-feira, 27 de setembro de 2011

PROJETO VOLUNTÁRIO

RANCHO DO CORONEL - DECLAMAÇÃO DE POESIA




SR. MIGUEL ALVES

EE “CEL. PEDRO DIAS DE CAMPOS”

CAPELA DO ALTO -SP

Projeto de trabalho voluntário

3º A - 3º B - 3º C - 3º D - 3º E - 3º F


APRESENTAÇÃO
          Esta coletânea nasceu dos encontros semanais entre o Sr. Miguel Alves e os alunos do 3º ano do Ensino Médio.
          O trabalho voluntário envolveu muitos alunos que se sensibilizaram com o fato de que um homem como seu Miguel, com uma memória privilegiada não tivesse o conhecimento com as letras de maneira formal.
          Os alunos voluntários estiveram presentes nos encontros domingueiros onde seu Miguel declamava seus poemas em um projeto incentivado pela ESCOLA DA FAMÍLIA batizado por ele e RANCHO DO CORONEL.
          Nestes encontros os voluntários gravam as apresentações que foram transcritas preservando vocabulário e estilo do autor.
          Os poemas declamados são a mais pura essência da tradição cultural, envolvendo causos e fatos de nossa terra fazendo deste homem um típico representante da cultura local. Os textos são todos de tradição oral, um gênero em extinção atualmente agora será preservado por meio deste singelo livro.
           Os alunos participantes deste projeto agradecem o carinho, atenção e os momentos d e alegria proporcionados pelo Sr. Miguel Alves.

CAPELA DO ALTO, 25 DE SETEMBRO DE 2011.


ALGUNS POEMAS:

CRIMINOSO

Seu doutor sou criminoso
Estou aqui pra me entregar
Mas antes do julgamento
Minha historia vou contar
Eu matei minha mulher
Ela quis me atraiçoar
Com o cabra Chico faria
Isso posso até jurar
Fiquei noite de tocaia
Chicão andava sondando
Ele chegou na minha casa
Maria estava esperando
Entregou uma carta e disse:
— O Maria tu és minha
Pro meu rancho foi entrando
Nessa hora fiquei louco
Picado de dor e paixão
Arranquei minha faca
Chicão foi para escuridão
Pulando pela janela
A carta caiu no chão
Leia a carta seu doutor
Como prova da traição
O doutor lendo a carta
Escutei ele dizer,
Que eu também sou criminoso
E também preciso morrer
Por matar Maria
E por não saber ler.

PITOCO
Pitoco era um cachorrinho
Que eu ganhei do meu padrinho
Numa noite de natal.
Pitoco era bem vivo muito esperto
E muito ativo, saltava pra la e pra cá.
Pitoco todo dia me acordava
Com seu latido sem para
Fazia tanta festa
Lambendo na minha testa
Querendo até me beijar
Foi num domingo do mês
Tinha festa no arraial,
Minha mãe com a criançada
Na capela foi rezar
Eu fugindo por outro caminho
No mato fui caçar
Eu com meu pitoco,
Fazendo virar cambota
O pobre caratara,
Pitoco ficou saciado
Com seu pelo arrepiado
Nessa hora quando
Eu vejo um galho dependurado
Uma uruçu doura pronta pra saltar
Nessa hora eu fiquei frio
Gritei pra virgem Maria
Pitoco saltou na frente
Combateu aquela serpente,
Pitoco não pode mais escapar,
Pitoco que tinha os olhos
Bem vivos foi fechando devagar
Pitoco parece que ate sorria
De ver minha patifaria
E ele não poder salvar
Oh! Meus amigos tão pouco
depois que perdi Pitoco
Nunca mais tive outro igual.

SÃO FRANCISCO
São Francisco é Padroeiro
Aqui do nosso lugar
Nossa senhora das Dores
Nós temos que adorar
São José e Santo Antonio
São Jorge e São João
Divino Espírito Santo
Que nos cubra de atenção
Eu quero ser abençoado,
Eu quero sua benção
São Francisco nos proteja
Eu quero sua proteção
Eu adoro todas as imagens
Eu não faço separação
Todas as imagens vem de Deus
Com grande adoração
O mundo inteiro adora Nossa Senhora
Eu guardo Nossa Senhora
No cantinho do meu coração.

MINHA CABRA PRETA
Eu tenho minha cabra preta
Trato dela bem tratado
A cabra que dá leite,
Pra tratar da criançada
Minha família são bastante
Mas já esta todos formados
Graça a minha cabrinha preta
A minha vaquinha adorada
Ela que dá leite
pra tratar da criançada
Quando o tempo tá de chuva
ela começa berrá
Nunca vi cabra luxenta
Que não gosta de se molhar
“Recaio” ela no “paio”
Que eu tenho lá no fundo do quintal
Há pode chover bastante
Que a minha cabra preta não faz mal
O que eu acho mais bonito
É o burrinho dos cabritinhos
“Oia” só esse bodinho preto
Esse bichinho tão bonito
Ele é o filho da cabra preta
A mãezinha do cabrito.

RAMO DE FLOR
Uma cabocla maldosa
Pediu pra que arrumasse
a ela um lindo buque de rosas.
Não era tempo de rosa
Eu andei por todo lugar
Quando foi numa tardinha
só pode me abriga
Quando entrei na igrejinha
avistei naquela hora
Um lindo ramo de rosa
no altar da Nossa Senhora
Quando eu vi aquele ramo de flor
Veja que idéia loca
Roubei o ramo da Santa
Só pra levar pra cabocla
Da igreja sai correndo
Com aquele ramo na mão
No passar da porteira
Foi a minha perdição
Deu um raio na paineira
derrubando o tronco no chão
Eu ali fiquei parado
com o ramo de flor na mão
Sem saber para onde ia
no meio da escuridão
Hoje eu estou sofrendo,
por ter roubado o ramo da Santa
Hoje eu sou pecador castigado

BOI AMARELINHO
Eu sou aquele boizinho
que nasceu no mês de maio
Desde que nasci no mundo
Foi só pra sofrer a trabalho
Só fizerem meu batismo
lá na margem do riozinho
Por causa da minha cor
fui chamado de amarelinho
Quando eu tava de um ano e meio
Fizeram armação
Em vez de amansar de carro
Amansaram de carretão
Um grato senhor patrão me disse
Vou manda esse boi para corte
Boi que não trabalho no meu carro
É boi que deve uma morte
Adeus campos da varginha
Terra dos ananais
os olhos que me olhe
Amanha não me vê mais
Subi no alto da serra
Avistei dois cavaleiros
com dois laços na garupa
E dois cachorros perdigueiro
um era o senhor patrão
Que me venha a visitar
E um malvado carniceiro
que veio pra negociar
Chegando no matador
não encontrava mais
O melhor jeito de ser
é entregar a minha vida
O malvado carniceiro
já correu até o facão
pra largar uma facada
bem certa no coração
Eu botei meu joelho em terra
Só pra ver o sangue correr
E o malvado carniceiro
bota a caneta para o sangue beber
Vou fazer uma promessa
quem meu sangue for tirar
O mundo da muitas voltas
e sem camisa a de ficar.

AS CARTAS DO BARALHO
Num domingo fui na missa
Pra cumprir minha missão
Só por não ter um livro de reza
Levei meu baralho na mão
Eu tava ali na igreja
O meu baralho eu levava
Quando chegou perto de mim
Um sargento ajoelhado
E foi logo dizendo:
Você esta intimado,
Tem que se apresentar
É a ordem do delegado.
Respondi assim pro moço
Com sincera educação
Se o senhor me dá licença
Dou uma explicação.
Todas as cartas do baralho
Tem sincera devoção
Quando pego num ÀS
Que tem uma pinta somente
Lembro que só existe
um DEUS onipotente.
Quando chamamos por ele
Na certa ele está presente.
Quando pego num 2
O dois me lembra
Que em duas tábuas de pedra
O criador escreveu
Naquela sarça ardente
Moises apareceu.
Quando pego num 3
Me lembro sinceramente
das três pessoas
da santíssima trindade
PAI, FILHO, ESPÍRITO SANTO.
Só um DEUS é verdade.
Quando pego no 4 de paus cruzado
Lembro que foi com quatro cravos
Que as mãos de Jesus foram presas
E ele crucificado
Foi preso sem dever um crime
Foi morto sem dever pecado.
Quando pego num 5
Que cinco pintas contem
Lembro que DEUS
Disse que nunca devemos
Amar falso ninguém
Porque quem ama falso
Nos outros perdão
No céu nunca tem.
Quando pego num 6
Me vem na recordação
Em seis dias DEUS fez tudo
Sem nada ter nas mãos.
Quando em pego um 7
Sete chagas me dão
Sete dias sofridos
que passou o NOSSO SENHOR
Que derramou seu sangue santo
Pra redimir o pecador.
Quando eu pego no 8
Tenho recordação
Que em oito dias fez tudo
Sem nada por a mão.
Quando pego no 9
Me vem na imaginação
Os nove meses que Jesus
Passou no ventre de sua mãe
MARIA DA CONCEIÇÃO
Foi assim seu delegado
Que na igreja eu fui rezar
Com sua licença me prendam
Ou vou me retirar.
O delegado pensou , pensou
E não deixou de perguntar
Por que razão você deixou
O valete sem contar?
Olha seu delegado,
O valete
É uma carta ruim, ruim
Que nunca vi de ruim
Assim porque o valete é aquele
Sargento que veio
Dar parte de mim.

OBSERVAÇÕES

          No dia 25 de setembro de 2011 encerrou-se este ciclo. Voluntários representando os alunos do 3º ano EM estiveram presentes para homenagear o poeta MIGUEL ALVES. Os textos declamados por ele foram recitados pelos alunos, o TRIO ESPERANÇA, um grupo folclórico local fez uma belíssima apresentação. Os alunos envolvidos organizaram um café da manhã para todos os presentes e a confraternização ficou completa.


PARABÉNS A TODOS OS ALUNOS ENVOLVIDOS!

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